Eu sempre descrevi para mim mesma o hábito como sendo um comportamento que se repete ao longo do tempo e se mantém por um período indeterminado, que gira em torno de uma disciplina adquirida até que se torne parte de nós, como algo mesmo automático. Mas segundo Stephen Covey, autor do livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, podemos pensar no hábito como habilidades que uma pessoa desenvolve e que lhes permite organizar suas ações em torno de determinadas metas ou padrões de comportamento, mas carregados de intencionalidade.
Lendo assim, soa mesmo confuso, então vamos entender a diferença entre hábitos como processos repetitivos ou automáticos e hábitos como uma sequência de comportamentos intencionais.
Hábitos: padrões de comportamento
Talvez você já tenha percebido como você repete certas práticas ou tem as mesmas reações diante de certos acontecimentos. Isto é o que podemos chamar de padrões de comportamento, e costumamos dizer que agimos “sem pensar”, ou porque fomos levados a isso.
Geralmente toda a carga cognitiva que trazemos do passado e a forma de interpretar os fatos da vida a que nos habituamos sem questionar respondem em grande medida para estes hábitos irrefletidos. Comer um docinho no final do dia para se compensar, adiar pequenas tarefas para amanhã, para exemplificar.
Hábitos: prática intencional de crescimento
Nesse sentido, os hábitos seriam compostos de três elementos, conforme Covey delineou: conhecimento, habilidade e atitude (ou vontade). Diferem significativamente do que se entende por hábitos como práticas automatizadas, pois possuem uma 'consistência' duradoura e demandam um esforço centrado e orientado em direção a uma missão definida, a um percurso planejado, identificado e aceito. Esse trajeto é intencionalmente percorrido, e o desafio conscientemente aceito. Observe que a palavra esforço deve ser sublinhada e mencionada em alto e bom tom.
AS 3 ETAPAS PARA HÁBITOS CONSTANTES
Conhece-te a ti mesmo.
Ao entender de uma vez por todas que os seus pensamentos não te definem, mesmo quando gritam “não sou competente o bastante” ou “sinto que não me encaixo”, perceba que eles surgem e podem causar grandes danos emocionais, mas são limitantes, passageiros e substituíveis. Afinal, não seremos meros produtos de nosso passado, de quem nos rotula ou de nosso DNA, quando estamos determinados a realizar uma mudança promissora em nossas vidas.
Devemos estar cientes de princípios inegociáveis e universais, como amor, respeito pela vida, lealdade, responsabilidade e justiça, assim como fazer escolhas conscientes de acordo com nossos valores pessoais, que nos inspiram e motivam a buscar mudança, tais como saúde, família, sucesso profissional, relacionamentos e independência financeira.
Essa clareza permite que adotemos, com convicção, os princípios norteadores, que nos guiam pelo caminho de um bem maior. reconhecer nossos valores, por sua vez, clareia os caminhos a serem trilhados com maior segurança e nos ajuda a tomar a direção mais acertada. Isso evita arrependimentos, lentidão e procrastinação.
Aprenda algo novo.
Esta etapa é a da aquisição de conhecimento. Pode estar repleta de dificuldades, expor nossos erros e nos levar a falhar e repetir o processo, mas o desânimo não deve ser barreira para desistir, e sim um estímulo que injeta energia renovada e impulsiona a ação. “Uma crítica?! Vai ver só! Toma aqui mais garra, sigo em frente!” “Demissão! Agora, com mais determinação ainda, vou me provar, me lançar com tudo e encontrar uma nova oportunidade!”
Comprometa-se com a evolução.
Muitas pessoas leem livros, fazem cursos, terapia e participam de outras empreitadas, esperando de forma passiva por uma transformação providencial. No entanto, a atitude e a vontade de mudança são fundamentais nesta etapa, que consiste em decidir e estar pronto para agir a cada novo obstáculo ou aprendizado. Realize sempre algo em cada brecha do dia, mesmo que seja um breve e minúsculo exercício diário. Coloque em prática tudo aquilo que aprendeu.
De posse deste conhecimento, não espere mais pelo dia em que novos comportamentos se instalem de maneira drástica, sem que você pare para pensar na trajetória e nos resultados. Ao contrário, vá pouco
a pouco: lute e realize minúsculos avanços ao fazer microatividades em breves e aleatórios momentos do dia.
Experimente iniciar, agir, continuar. Lembre-se de não confundir hábitos intencionais com hábitos automáticos. Talvez não baste praticar musculação por duas semanas ou 20 dias consecutivos para que o novo comportamento se instale definitivamente de maneira eficaz, especialmente se não sabemos o que encontraremos no caminho e onde queremos chegar. Por isso, vislumbre, planeje e trace um plano, considerando as interferências e o mau tempo para, mesmo assim, seguir adiante.
EXERCÍCIO DE ESCRITA COM MAPA MENTAL
Usando preferivelmente um papel pontilhado ou uma agenda tipo bullet journal, faça duas formas geométricas de sua preferência e escreva dois hábitos que quer implementar em sua vida. Logo abaixo de cada um deles, utilizando ícones ou bullets, escreva uma lista de ações a realizar para aderir ao novo hábito. Vale colocar, em uma caixa à parte, as desculpas para não querer realizar a tarefa e, em seguida, quebrar cada uma dessas objeções.
A ideia é construir uma estratégia visual e escrita do seu plano A ou B para a execução dessas atividades de forma gradual, mas frequente.
Por exemplo, fazer as unhas demanda um certo passo a passo, então você poderia iniciar descrevendo os passos a seguir:
1. Hidratar as mãos e lixar as unhas.
2. Mais tarde ou amanhã, retirar as cutículas.
3. Em outro momento, passar uma base.
4. Finalmente, pintar as unhas.
5. Fazer retoques depois, e pronto!
A título de exemplo, ao lado das objeções, poderia apontar “preguiça”, “falta de tempo” ou “pouca habilidade”. Esfacelar essas objeções seria algo mais ou menos assim: “me sentir mais bonita e confiante”, “cada passo a passo levará apenas uns minutinhos” ou “quanto mais faço as unhas, mais fácil isso se torna”.
Lembre-se de primeiramente observar em que você está procrastinando, montar um plano de ação palpável, ou seja, por escrito, identificar as desculpas, confrontar cada uma delas e executar pouco a pouco o novo comando e futuro hábito.
Marilles Farias